O ano de 2017 foi escolhido pela IASP para ser dedicado ao estudo da Dor pós-cirúrgica. A Dor pós-cirúrgica é um modelo ideal para se estudar os aspectos da dor aguda e sua transformação em dor crônica, uma vez que sabemos de antemão todos os fatores envolvidos em sua cronificação, e também analisar os aspectos de neuroplasticidade desenvolvido pelos pacientes que desenvolvem este tipo de dor. A maioria dos pacientes que se submetem a uma cirurgia sem intercorrências vai se recuperar e retomar suas atividades diárias normais dentro de algumas semanas. No entanto, a dor pós-cirúrgica crônica se desenvolve em uma alarmante proporção de doentes.
A informação sensorial gerada durante a fase de lesão aguda é muito importante para o desenvolvimento posterior de dor crônica. Ao contrário de outras lesões, o ato cirúrgico apresenta um conjunto de circunstâncias em que o momento da ocorrência da lesão e da dor física subsequente são conhecidos antecipadamente. Isso fornece uma oportunidade, antes da cirurgia, de identificar os fatores de risco e fatores de proteção que predizem o curso da recuperação e prevenir a transformação em dor crônica. Algumas condições, tais como tipo de cirurgia (mastectomia, amputação, toracotomia), extensão da cirurgia (cirurgia aberta ou por vídeo), fatores psicossociais (tais como transtorno de ansiedade e transtorno depressivo) e fatores genéticos parecem conferir um maior risco de desenvolver dor crônica pós-cirúrgica.
Dor neuropática iatrogênica é provavelmente a causa mais comum de dor pós-operatória a longo prazo. O papel dos fatores genéticos devem ser estudados, uma vez que apenas uma proporção de doentes com lesão nervosa, desenvolverá dor crônica. A genética da dor baseia-se em polimorfismos de genes humanos associados à dor crônica, rastreados a partir de estudos genéticos em modelos de roedores. Parece haver relação entre o gene acoplado à proteína G de canais de potássio (GIRK) KCNJ6 com a capacidade de determinar o grau de analgesia experimentada após a ativação de receptor opioide por opioides endógenos e exógenos.
Dor aguda pós-operatória é seguida por dor crônica persistente em 10-50% dos indivíduos após cirurgias, tais como a reparação de hérnias, cirurgia torácica, amputações, cirurgia de revascularização miocárdica. Visto que os pacientes com aguda pós-operatória têm mais chance de desenvolver dor crônica persistente, além de desconforto e pior recuperação cirúrgica, a dor pós-operatória persistente representa um problema, em grande parte não reconhecido.
Além disso, o efeito da terapia analgésica agressiva precoce para a dor pós-operatória deve ser abordado, uma vez que a intensidade da dor aguda pós-operatória está correlacionada com o risco de desenvolver um estado de dor persistente.
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