Congresso Brasileiro de Dor

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Estivemos na última semana, em São Paulo, no Congresso Brasileiro de Dor. Entre algumas novidades de tratamentos, podemos ressaltar o lançamento de duas medicações tópicas em forma de adesivo (patch). Uma medicação à base de lidocaína, para tratamento de regiões de dor neuropática, e uma segunda constituída por um analgésico opioide (derivado de morfina), para tratamento de dor oncológica refratária. As medicações para uso cutâneo (patch), muito utilizadas fora do Brasil, trazem algumas vantagens de posologia e diminuição de efeitos colaterais, uma vez que não necessitam passagem pelo trato digestivo para serem metabolizadas.

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Um segundo comentário sobre o Congresso: muito interessante a exposição de trabalhos artísticos feitos por pacientes, com apoio do Laboratório Zodiac. Os sentimentos expostos refletem bastante a impressão clínica que temos dos pacientes com dor crônica, a sensação de impotência e desespero que sentem. E a saída envolve exatamente a conscientização de que é possível vencer a dor e sobre as formas de reabilitação deste paciente, as quais envolvem o fortalecimento do auto-cuidado.

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Aos insones de plantão

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O FDA acaba de aprovar uma nova medicação contra insônia nos Estados Unidos. O princípio ativo recebeu o nome de Suvorexant. Esta medicação tem um mecanismo de ação ainda não explorado na insônia, diferente dos benzodiazepínicos ou indutores de sono já utilizados. Ela atua inibindo a hipocretina, substância produzida no hipotálamo, relacionada à manutenção da vigília e apetite. Ainda é cedo para saber quando esta medicação chegará ao Brasil e como será seu uso na prática clínica. Mas fica aí a possibilidade de um novo tratamento.

Quando investigar uma Cefaleia?

Quando investigar uma Cefaleia? Dor de cabeça ou Cefaleia é um sintoma que aparece pelo menos uma vez na vida em mais de 90% das pessoas saudáveis. Visto a frequência deste sintoma, relacionado a doenças tão simples como um resfriado, ou tão graves quanto um aneurisma cerebral roto, é uma dúvida comum dos pacientes e alunos de medicina saber quando investigá-lo. Tentando esclarecer este assunto, segue abaixo Aula ministrada no 1o. Curso de Cefaleias da Liga de Neurologia da Faculdade de Medicina Barão de Mauá- em Ribeirão Preto/SP- organizado pelo Dr Marcelo Ciciarelli, com o apoio da Sociedade Brasileira de Cefaleia, em Junho/2014.

   Quando investigar uma cefaleia

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Entrevista com paciente

 

Segue abaixo uma entrevista que realizei com a paciente Gislaine Carina Rogério de Oliveira, que após um longo caminho de recuperação, conseguiu ficar livre de sua migrânea crônica (enxaqueca). A mudança de hábitos de vida, alimentação e prática de exercícios físicos, associada a um tratamento direcionado, foi fundamental para a melhora. Solicitei gentilmente que ela desse este depoimento, para exemplificar para todos os pacientes que, em primeiro lugar, é possível melhorar  sua dor crônica, porém, sua participação ativa no tratamento é fundamental.

1) Há quanto tempo você tem enxaqueca?

Tenho enxaqueca desde os 10 anos e convivi com ela nos últimos 24 anos.

2) Quais os tratamentos que já realizou?

Realizei diversos exames e tratamentos utilizando todo tipo de medicamento, realizei também bloqueios e como ultimo recurso o Botox (Toxina Botulínica).

3) Quais foram os melhores resultados?

Os medicamentos tinham uma pequena melhora mas a dor sempre voltava, com os bloqueios passei até 15 dias sem dor, já com Botox obtive um dos melhores resultados passando a ter dor poucas vezes por mês durante uns 5 meses.

4) Como as alterações de hábitos de vida (dieta, exercício físico) influenciaram sua melhora?

A mudança de hábitos alimentares e inclusão de atividade física diária foi a melhor escolha que eu podia ter feito, obtive uma melhora significativa na dor em poucas semanas, mudei radicalmente meus hábitos e decidi praticar atividade física diariamente, frequentando academia, fazendo caminhadas, andando de bicicleta e fazendo musculação. Comecei uma dieta balanceada eliminando todos os itens que me causam dor como por exemplo frituras, chocolates, refrigerantes etc… Passei a me alimentar de 3 em 3 horas e evitar jejum prolongado, tomar muita água e fazer pelo menos 2 horas de atividades diária. Com isso consegui ter qualidade no sono sem necessitar de medicamento diário para dormir, ter muita disposição. Hoje em dia o único medicamento que uso é o Lyrica e raramente tenho um episódio de dor.

Eu não acreditava que pudesse mais viver sem dor, as pessoas precisam se conscientizar que tudo está relacionado com o que comemos e com o modo em que vivemos, enquanto fui sedentária e consumia alimentos de qualquer natureza sem me preocupar com qualidade, quantidade e horários fiquei com muita dor e cada vez mais indisposta e com sono ruim.

5) Como está agora?

Posso dizer que estou ótima, após 6 meses de mudança de hábitos e atividade física constante, minha vida mudou. Tenho consciência que a mudança deve ser permanente, não adianta fazer um tempo e depois parar. Mas quem vai querer voltar a ter dor? Se posso viver sem dor e ter uma vida 100% saudável, vou mesmo me cuidar.

6) Então, é possível melhorar?

Posso afirmar que é possível melhorar, sou a prova disso, basta ter força de vontade, decidir mudar os hábitos alimentares e praticar atividade física, minha vida esta muito melhor tanto corpo como mente.

Genética e Dor Crônica

 

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As síndromes de dor crônica têm alta prevalência na população em geral, em todas as idades. Por que algumas pessoas possuem maior predisposição a desenvolvê-las? Cada vez mais acredita-se que existam causas genéticas para este fato. 

Um estudo publicado recentemente na Pain, a mais importante revista sobre dor no mundo, avaliou 8564 gêmeos com quadro de dor crônica (músculo-esquelética, dor pélvica crônica, enxaqueca e síndrome do intestino irritável) avaliando os fatores genéticos e ambientais subjacentes. A amostra foi predominantemente do sexo feminino (87,3%), com idade média de 54,7 anos. Entre os pares de gêmeos monozigóticos houve maior predominância de dor crônica com relação aos gêmeos dizigóticos, sugerindo um componente hereditário. Estes resultados falam a favor de evidências sobre fatores genéticos compartilhados, resultando em condições favoráveis à manifestação de dor crônica. Ainda não podemos esclarecer o mapeamento destes genes, mas acreditamos que no futuro poderemos chegar lá. Assim, continua a busca pelas variantes genéticas causadoras de síndromes dolorosas crônicas.

Quem apresenta mais dor? O homem ou a mulher?

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Quem apresenta mais dor? O homem ou a mulher? Esta sempre foi uma dúvida importante, de difícil resposta… Porém, estamos mais perto de compreender melhor estes mecanismos. Existe um grupo específico de estudos na IASP (International Association for the Study of Pain) para diferenças entre gêneros na manifestação da dor. O que se sabe até agora? As diferenças envolvendo homens e mulheres são mais relevantes em pesquisas clínicas que os resultados de estudos de laboratório. Os estudos realizados até o momento indicam que as variáveis psicológicas e sociais podem influenciar fortemente a percepção de dor e muitas vezes podem explicar mais da variância associada à dor do que as variáveis biológicas (na maioria das culturas os homens são criados para tolerar dor, sendo esta tolerância um sinal de força e superioridade). De um modo geral, as mulheres apresentam uma maior quantidade de síndromes dolorosas crônicas em relação ao homem (como migrânea crônica, síndrome do intestino irritável, fibromialgia, entre outras). Elas também tendem a apresentam maior incapacidade quando comparando síndrome dolorosas semelhantes. Fatores hormonais podem estar envolvidos com estes achados (o estrógeno modula vias serotoninérgicas, dopaminérgicas e sensibiliza receptores NMDA). Além disso, as mulheres também apresentam mais sintomas depressivos e ansiosos, os quais estão diretamente ligados à dor crônica. De toda forma, ainda não há um consenso universal sobre este tema e novos estudos ainda estão acontecendo para esclarecer assunto tão polêmico.

Estes dados estão no estudo :Studying sex and gender differences in pain and analgesia: A consensus report”. Pain 132 (2007): S26 – S45. 

Alimentos que podem interferir na Enxaqueca

 

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Continuo insistindo no tema “alimentação e dor”…

Percebo com frequência, no consultório, que alguns pacientes que mudaram hábitos de vida e hábitos alimentares, apresentaram melhora importante de suas crises de migrânea (enxaqueca). É claro que a alimentação não é a causa da enxaqueca. Esta, é uma doença de origem genética, com forte influência ambiental e hormonal, especialmente na mulher adulta. Entretanto, associado a uma avaliação médica adequada e ao tratamento medicamentoso, é essencial investir em medidas de mudanças de hábitos. Entre estas medidas, as que parecem exercer maior impacto no tratamento, seriam exercícios físicos regulares e medidas de dieta.

Para exemplificar alguns alimentos que merecem atenção e devem ser evitados:

Cafeína: substância presente no chocolate, no café e em bebidas como chá preto e refrigerantes pode provocar enxaqueca se consumida em excesso. Geralmente, indica-se que o consumo não exceda o equivalente a três pequenas xícaras de café ao dia.

Glutamato monossódico: é um tempero que realça o sabor, comum em produtos industrializados.

Nitritos e nitratos: estão presentes em alimentos como salame, presunto, mortadela e salsicha. Possuem ação vasodilatadora, que pode desencadear a dor.

Aminas: estão presentes em bebidas alcoólicas, como cerveja e vinho (em especial o tinto), queijos maturados, embutidos, molho de soja e carnes defumadas.

Lactose: para algumas pessoas que têm intolerância à essa substância, presente no leite e seus derivados, a enxaqueca pode ser agravada. Não devemos evitar leite e derivados para todas as pessoas com enxaqueca, visto ser um alimento altamente nutritivo.

Frutas cítricas: limão, laranja e abacaxi podem desencadear crises em quem sofre de enxaqueca. O mecanismo parece ter relação com metabolismo do cobre.

 Jejum prolongado: ficar por mais de 3 horas sem se alimentar também pode desencadear dores de cabeça. A hipoglicemia (baixa do açúcar no sangue) seria a deflagadora da dor nestes casos.