Bloqueios de cicatriz cirúrgica pós-craniotomia

procedimentos em dor crônica

Como já descrevemos anteriormente, os bloqueios anestésicos são alternativas que podemos utilizar no tratamento da dor crônica, em associação com medicações por via oral, com bons resultados. São realizados a partir de injeções locais em determinados nervos, músculos ou articulações. Visam diminuir as doses utilizadas de analgésicos orais, melhorar a resposta do alívio da dor, diminuir a sensibilização periférica.

Uma das opções que temos realizado e descrevemos em artigo recente, é o bloqueio de cicatriz pós-craniotomia, o qual descrevemos em artigo recente. Observamos, com certa frequência, que alguns pacientes após procedimento de neurocirurgia ou trauma craniano local, desenvolviam uma dor de cabeça nova, relacionada à área de incisão cirúrgica e que permanecia por meses ou anos após o procedimento. Observamos também, que o bloqueio destas regiões (terminações nervosas no couro cabeludo) melhorava a dor imediatamente e com resposta a longo prazo. Acredita-se que alguns ramos terminais de nervos ficam encapsulados na cicatriz cirúrgica (neuromas), transformando-se em gatilhos de dor neuropática. Este bloqueio é uma opção de um procedimento simples, que melhora muito a qualidade de vida do paciente. Fica aí a informação…

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Toxina Botulínica e Cefaleia

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A Toxina Botulínica tipo A é aceita como tratamento profilático de primeira linha em pacientes com Migrânea Crônica (enxaqueca) refratária ao uso de medicações. Os estudos Preempt I e Preempt II demonstraram diminuição dos dias de cefaleia no mês, da intensidade de dor, do uso de analgésicos e melhora de parâmetros de qualidade de vida. Atenção mais uma vez: nenhum estudo indica melhora de 100% da dor, embora ela possa até acontecer. Como já afirmamos algumas vezes, a expectativa do paciente tem que ser bem realista. As aplicações devem acontecer a cada 12 semanas (3 meses) , sendo repetidas até 2 ou 3 vezes para sabermos se haverá benefício. Após confirmada a melhora, não há ainda um consenso sobre o tempo de manutenção do tratamento, conforme afirma o Consenso Latino Americano para as Diretrizes de Tratamento da Migrânea Crônica – Headache Medicine. 2012;3(4):150-61.

Nossa impressão inicial, após 4 anos de experiência com estes pacientes, é de que é um bom tratamento, devendo-se considerar os efeitos colaterais possíveis (fraqueza muscular sistêmica, reações alérgicas, por exemplo) e o preço do tratamento. 

A medicação que veio do caramujo…

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Um novo anestésico para uso intratecal que ainda não chegou ao Brasil é uma esperança para os pacientes que sofrem de dor crônica, especialmente dores da região lombar, causadas por compressões vertebrais. Esta medicação, chamada Ziconotide, foi sintetizada a partir da toxina do Caramujo Conus Magno, e atua bloqueando canais de cálcio, assim como outras medicações moduladoras de dor por via oral (gabapentina, pregabalina).

Esta medicação já foi aprovada pelo FDA para uso no Estados Unidos em pacientes com dor refratária aos tratamentos convencionais. Em estudo duplo-cego randomizado (comparando-se com placebo), o Ziconotide melhorou a dor (em intensidade)  pelo menos 30% nos pacientes estudados. Embora pareça pouco, uma melhora de 30%, já é considerada o suficiente para que a medicação seja utilizada (visto a dificuldade de tratamento destes casos).

Artigo de revisão do assunto: Intrathecal ziconotide: a review of its use in patients with chronic pain refractory to other systemic or intrathecal analgesics. CNS Drugs. 2013; 27(11): 989-1002.

 

Existe relação entre dor crônica e queixas de memória?

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Pacientes com dor crônica frequentemente relatam queixas cognitivas, que dificultam situações sociais e atividades da vida diária. Entretanto, pouca atenção clínica e relacionada à pesquisa foi dada a este tópico. A maioria dos estudos realizados avaliou pacientes com tipos de dor específicos, tais como lombalgia e fibromialgia. Neste artigo publicado no Pain, Landro et al identificam algumas possíveis razões para estes sintomas, incluindo sintomas depressivos (os quais estão presentes em 40 a 50% dos pacientes com dor crônica) e uso de medicações.

As as principais perguntas elaboradas foram: Existe relação entre queixas de memória e desempenho neuropsicológico em pacientes com dor crônica e sintomas depressivos controlados? Até que ponto as funções neuropsicológicas são afetadas em uma população com dor crônica? A avaliação neuropsicológica varia em pacientes com dor generalizada ou localizada? Os medicamentos utilizados para dor podem prejudicar o desempenho destes pacientes?

Entre os resultados encontrados, os pacientes com dor neuropática e generalizada apresentaram pontuações mais baixas nos testes neuropsicológicos que os pacientes com dor localizada, entretanto, não apresentaram diferenças significativas entre os grupos para sintomas depressivos.

Os pacientes que não usavam medicações e aqueles que utilizavam apenas opióides tiveram pontuação semelhante nos testes neuropsicológicos. Pacientes utilizando opióides + antidepressivos + anticonvulsivantes obtiveram pior pontuação na avaliação neuropsicológica.

Conclusões: O tema cognição e dor vem sendo estudado recentemente em alguns poucos trabalhos. Algumas limitações deste estudo podem ser descritas, tais como a não existência de um grupo controle e não haver pareamento por idade. De toda forma, este trabalho abriu um espaço para que pacientes com dor crônica possam ser investigados com relação a sintomas cognitivos e para que novas pesquisas sejam realizadas em área tão relevante clinicamente.

Bloqueios epidurais com corticoide e lidocaína

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Pois é… nada como a ciência baseada em evidências para mudar conceitos que já estavam estabelecidos.

Lombalgia crônica é a principal causa de dor crônica no mundo. Logo, é muito frequente dispormos de bloqueios anestésicos em região epidural para tratamento destas dores. Após anos de bloqueios epidurais utilizando-se corticóides + lidocaína, finalmente um estudo randomizado muito bem desenhado, publicado no New England Journal of Medicine, comprovou que os resultados com e sem corticoides são semelhantes. Assim seja. A partir de agora lidocaína apenas nos bloqueios epidurais.

Hábitos dietéticos e dor crônica

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Os hábitos dietéticos atuais, que privilegiam alimentos com excesso de sódio, açúcar e gorduras saturadas, têm causado prejuízos importantes na saúde do indivíduo e facilitado o desenvolvimento de doenças crônicas. A Organização Mundial de Saúde publicou dados à respeito em interessante artigo (Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. World Health Organ Tech Rep Ser 2003. 916:1-149).

Com relação à dor crônica os últimos estudos têm enfatizado que uma nutrição adequada é a base de uma boa saúde, além de previnir a dor crônica. Como exemplos, déficits de vitamina B12 e ácido fólico podem desencadear neuropatias dolorosas e o déficit de vitamina D pode desencadear dor osteomuscular. Os estudos mais recentes indicam que inclusão de alimentos que possuam em sua constituição ômega 3, ômega 6, vitamina D e baixa quantidade de poliaminas (presentes em carnes e produtos industrializados) podem auxiliar o tratamento da dor. Por outro lado, alimentos contendo flavonoides (derivados da uva por exemplo), ácido alfa-lipóico (vegetais verdes), antioxidantes e magnésio parecem beneficiar os pacientes com dor crônica mas ainda precisam ser melhor estudados. A cafeína faz um papel dual na gênese da dor crônica. Seu uso em excesso (indica-se maior que 3 xícaras pequenas ao dia) pode estar relacionado à abstinência e cefaleia de rebote. Por outro lado, pequenas quantidades ingeridas podem beneficiar a ação de outras medicações como paracetamol. Muita atenção ao uso de cafeína, que inclusive está também presente em bebidas derivadas da cola e chás!

Estes dados estão no estudo : “Food, pain, and drugs: Does it matter what pain patients eat?” Pain 153 (2012) 1993–1996. 

Cefaleias: quando os exames complementares são indicados?

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Os exames complementares devem ser indicados quando existe algum sinal de alarme na anamnese e exame físico que indique a presença de causas secundárias para a dor de cabeça. Podem ser necessários exames laboratoriais tais como hemograma (triagem infecciosa), VHS (na suspeita de arterite temporal), sorologias (HIV, sífilis…). radiografia da coluna cervical , no caso de cefaléia cervicogênica.

A tomografia computadorizada e ressonância magnética de encéfalo são os principais exames de imagem na investigação de cefaleias secundárias. Por outro lado, o eletroencefalograma não tem indicação clínica na investigação de uma cefaleia (esta é uma dúvida frequente dos pacientes). Na suspeita de neuroinfecção (meningites) o exame do líquor é essencial. A pesquisa de bactérias, fungos, tuberculose e sífilis podem ser realizados por este exame.

Cefaleias: as perguntas essenciais!

 aula cefaleias primarias mais frequentes- migranea e cefaleia tensional

1. “Quando começou a dor? É a primeira vez que tem esta dor?”

De um modo geral uma dor crônica ou recorrente gera menos preocupação que uma dor de início recente. A primeira cefaleia da vida deve ser investigada. É importante avaliar a idade do paciente, pois uma dor crônica iniciada em paciente com mais de 50 anos deve ser sempre investigada.

2. “Como foi a instalação da dor: gradual ou súbita?”

Cefaleia de início súbito ou explosivo pode indicar ruptura de um aneurisma intracraniano. Uma dor aguda acompanhada de febre pode ser indicativa de meningite.

3. “Onde é sua dor de cabeça? Qual é sua característica?”

Cefaleias latejantes e unilaterais estão geralmente relacionadas à migrânea ou enxaqueca. Este tipo de dor tem origem genética, influenciada por fatores hormonais, acometendo maior número de mulheres em relação aos homens. Pode estar relacionada à intolerância à luz, barulhos e presença de náuseas, durando até 72 horas. Já as cefaleias tensionais manifestam-se como dor em peso, aperto ou “faixa na cabeça”, bilaterais.

As cefaleias secundárias podem assumir características de cefaleias primárias mas tendem a se apresentar como dor constante, em aperto. Dor cervical pode estar relacionada com cefaleia cervicogênica. Sinais autonômicos como lacrimejamento, hiperemia conjuntival e rinorreia não são específicos mas estão presentes nas cefaleias trigêmino-autonômicas, como a cefaleia em salvas.

4. “Com que frequência ocorre sua dor? Quanto tempo dura a dor sem uso de analgésicos? Por quantos dias no mês é necessário o uso de analgésicos? Qual analgésico utilizado?”

Estas perguntas ajudam a determinar a periodicidade da cefaleia e sua cronificação, além do padrão de abuso de analgésicos.

5. “O que desencadeia sua dor? O que piora sua dor? O que pode melhorar sua dor?”

Cefaleias desencadeadas por esforço físico, atividade sexual, pioradas com postura, manobra de Valsalva e decúbito podem ser indício de doença secundária. Na migrânea fatores alimentares como queijos, café, chocolate, defumados, frutas cítricas ou cheiros fortes, privação de sono, privação alimentar e ansiedade podem desencadear a dor. Por outro lado, pacientes com migrânea procuram lugares calmos e silenciosos para repousar, enquanto pacientes com cefaleia em salvas permanecem agitados durante a crise.

6.“Existem sinais e sintomas associados?”

Alguns destes sinais e sintomas podem ser indicativos de cefaleias secundárias, como febre e rinorreia nas sinusites ou meningites bacterianas ou sinais focais nas cefaleias causadas por lesões expansivas intracranianas. Algumas alterações visuais tais como escotomas cintilantes ou escuros, vertigem e parestesias podem caracterizar aura migranosa.

7. “Há história familiar de Cefaleia?”

A migrânea é a cefaleia com história familiar mais freqüente.

8. “Quais são as condições e fatores associados?”

Presença de gravidez, imunossupressão/ SIDA, neoplasias, uso de drogas e substâncias (cafeína e nicotina), obesidade, uso de contraceptivos orais, apneia obstrutiva do sono, exposição ocupacional, sinusite prévia podem ajudar a elucidar a causa da dor.